quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

MARIA 93

"De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu.
Salvando minh'alma da vida, sorrindo e fazendo meu eu."

          Esse trecho da música Dona Cila, da Maria Gadú expressa o que realmente eu sinto por você. A música fala de despedida e eu não quero cantá-la com esse intuito, pelo menos nos próximos dez anos.
          Lembro-me perfeitamente dos seus cuidados e carinhos, quando eu ainda nem sabia que era gente. E ainda me dar um aperto no peito quando me vêm à memória os dias em que tinha que ficar na casa dos meus pais para você viajar para Juazeiro, e quando você voltava era como se eu voltasse a vida e ainda me trazia um brinquedinho de recordação daquele lugar. Mas, foi numas dessas viagens tive que me adaptar a realidade de ficar com quem realmente deveria cuidar de mim, mesmo eu optando por você, era deles a responsabilidade de me "criar". Sentia muita saudade de acordar e te chamar pra me tirar da rede, pra que eu pudesse comer aquela "papa" feito com farinha e leite de vaca fresco comprado todas as manhas.
          Ah! Como a vida era tão simples, nossa casa, meus brinquedos, os vizinhos e todos os tios e primos que me "bajulavam". O carinho deles foi muito importante, mas incomparável com o seu, que me fortalece até os dias de hoje. Os meus primos que me perdoem, mas adorava quando você dizia e sei que ainda diz que sou o preferido e com orgulho repete inúmeras vezes "Esse é meu neto, criei ele até os 4 anos e entreguei pro pai e pra mãe, quero muito bem a ele, de todos é o que mais gosto". O que dizer diante dessas palavras que ouvi a minha vida toda? Só agradecer a Deus por me dar esse presente que, já estava na terra há 63 anos, esperando por mim.
          A única vez que vi você chorar foi no dia que parti, e esse ato me emociona até os dias de hoje, esse é um dos motivos que me fazem acreditar que eu vou e mereço chegar ao meu alvo, pois pago um preço muito alto ficando longe das pessoas que mais amo. Uma das maiores referências que tenho de você são as músicas dos cantadores de viola que eu sei que tu gostas e quando eu era pequeno ficava ouvindo com você sempre pela manhã e ao entardecer, parecia uma tradição. Isso me faz lembrar um fato engraçado: o dia em que você foi ouvir seu rádio o qual não funcionava e com isso você ficou muito brava e a minha prima ficou quietinha pra você não brigar com ela, pois foi aquela "cachorra da mulesta" que havia quebrado. Sem falar no meu tio que ficou tão nervoso com a situação, disse que levaria pra consertar na rua da "repulpa", querendo dizer república. Ainda vou fazer um esquete no teatro usando essa situação. rsrsrs
          É minha velha, o tempo tem passado e o seu neto aqui já tem 30 anos, mesmo a distância, não há um só dia que eu não pense em você. A admiração que tenho por ti é inenarrável, não há palavras que defina. Sua força e garra é um grande exemplo pra toda a família, você sempre soube exercer o seu papel de esposa, de mãe, de amiga e de vó. Hoje sinto que sua voz está mais fraca, afinal de contas já se passaram 93 anos e apesar da força que tens, não é de ferro. Sei que temos muito tempo pela frente e só há uma forma de retribuir tudo que fizestes por mim, te dando o meu amor que é incondicional e transcendente, pois, vai além de todas as vidas, e cuja "metade foi tu que me deu".

Te amo minha MÃE!!!

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